VERSÃO I
NARRADOR: Gente a esperar
Em noite de São Jão
Noiva no artar
Só falta chegar o Jão
NOIVA: Ai meu Santo Antonio
Quê do meu João
Será que vai me deixar
Depois de tanta produção
NARRADOR: Jão é cabra de palavra
Bem que pensou desistir
Mas se assim o fizesse
Tinha que se ver com seu Didi
NOIVO: Oxente minha fulo de Maracujá
Ainda ta aí a me esperar, ta?
Magina se eu ia deixar ocê
Plantada nesse artar
NOIVA: Eu sei meu beija-flor
Que a mim tu tem amor
NOIVO: Vamos padre
Case nois nesse momento
Não tem nenhum impedimento
Prêsse nosso casamento
NARRADOR: O padre já cansado
Não quer mais perder tempo
Chama os dois pra frente
Prumode fazer o juramento
PADRE: Então venha para cá
João Lutero Jatobá
Trazendo consigo a sinhá
Maria fulô Maracujá
NARRADOR: Os dois vão pro artar
Cheios de felicidade
Quando de repente
Aparece uma beldade
AMANTE: Ô Jão Lutero sei lá de que
Acha que vai se casar é?
Ocê imbuxa eu e vai casar
Com outra muié
NOIVO: Mai eu nunca vi ocê
Nem na missa nem na carniça
Esse guri não é meu
Essa muié uma bisca
NOIVA: Ah!!! Jão Lutero
Ocê vai ter que se explicar
Donde vem essa bisca
Com seu filho a carregar
PAI DA NOIVA: Ah!!! Mai vai mermo
Só que não é a eu nem a ocê
É cum delegado da puliça
Que esse cabra vai se ver
NARRADOR: O coração de Jão dispara
Suas pernas trema toda
Inté que chega uma moça
E decidida fala
AMIGA DA AMANTE:
Ontem mermo eu lhe vi
Sua barriga só tinha banha
Vamos logo de uma vez
Acabe com essa façanha
DELEGADO: Parem ou eu atiro! (aponta a arma)
NOIVO: Eu não te disse minha Fulô
Que só tenho oi pra ocê
Vamos padre nos case logo
Antes que a comida acabe
E a gente fique sem comer
NARRADOR: E assim segue o casório
Noivo e noiva no artar
O padre não se demora
Para não contrariar
PADRE: (faz o sinal da cruz e diz:)
Pode beijar a noiva
NOIVA: Ai! Eu tou tão feliz!!!
NOIVO: Ah! Minha fulô...
Eu não vejo a hora de te ver:
Fazendo meu café
Pegando a toalha prumode eu me enxugar
Preparando a mesa para quando eu acordar
NOIVA: Oxente! É só pra isso que ocê me quer, é?
NOIVO: Não! Vamos fazer muito guris!
Solta o som!!!
Autora: Ivone Alves SOL
VERSÃO II
Casamento Caipira
O padre chega à capela com o coroinha:
PADRE: Ê meu filho, que bom que vai ter mais um casamento.
COROINHA: É mesmo, Graças a Deus.
PADRE: Vamos acabar de arrumar as coisas até o povo chegar.
Eles continuam a arrumação, e alguns convidados chegam, até que o pai do noivo, Tonico chega perguntando:
PAI DO NOIVO: ô Seu Padre, me dá um anador?
PADRE: Pra que? Tá com dor de cabeça?
PAI DO NOIVO: Não, to com dor de dente.
PADRE: Ih, não tenho não. Só em casa mesmo.
Tonico insatisfeito e com dor, sentou se em um banco. Logo D. Maricota, chega com a filha Penha (e também madrinha) reclamando do casamento:
MÃE DO NOIVO: Ah filha, que mau gosto do seu irmão. Escolher aquela amalera empombada.
IRMÃ DO NOIVO:Pois é mãe. E o pior que ela nem é chique como nós.
MÃE DO NOIVO:Então, e aquela mãe dela fofoqueira e sem vergonha?
IRMÃ DO NOIVO: Tadinho do meu irmão, ele não merecia fazer parte daquela família de ovo choco.
O padre olha com a cara feia para elas:
PADRE: Que tal fazer silêncio?
MÃE DO NOIVO: Desculpa.
IRMÃ DO NOIVO: Desculpa.
Tonico vira se para as duas e pergunta:
PAI DO NOIVO: Você tem um anador pra me dar, to com uma dor de dente…
(ele fará isso com todas as personagens)
O pessoal chega, e a marcha nupcial inicia. Entra a mãe da noiva acompanhada da mãe. No meio da entrada da capela, a noiva protesta:
NOIVA: Eu te falei mãe. Aquele leitão desmamado não ia casar comigo.
MÃE DA NOIVA: Filha, o seu pai e o delegado foram buscar aquele covarde na unha.
Tonico interrompe as duas, e pergunta pelo anador. Ambas respondem NÃO. Tião, melhor amigo de Chico, entra choramingando:
AMIGO DO NOIVO: Ah não, não deve ser possível.
PADRE: O que foi meu filho?
AMIGO DO NOIVO: Padre, faz o Chico desistir dessa bobagem de casamento.
PADRE: De jeito nenhum. Tá feito já, ele vai casar sim.
AMIGO DO NOIVO: E com quem que eu vou beber todas?
O padre desaprova a cabeça (tsc). Tião é repreendido por Tonico, sendo perguntado pelo anador. Diz não. A amiga e madrinha da noiva, Januária diz a Genoveva:
MADRINHA DA NOIVA: Eu falei Genoveva, pra você não piscar pra aquele sem vergonha. Falei prá piscar pra algum rapaz bonito da cidade. Agora que o seu pai viu, não vai ter outra saída.
NOIVA: Mais eu tava piscando pro rapaz bonito, mais o pai estava bêbado e achou que era pra aquela marmota do Chico. E outra coisa, o moço bonito não tava nem aí comigo. Só queria se amostrar no carro dele.
O padre pede pra que todos esperem pelo noivo. Até que uma falação e gritaria vêm lá de fora. O noivo está sendo trazido pelo delegado e pelo sogro:
NOIVO: Olha aqui seu Genaro, já falei mais de mil vezes:
Eu não vou casar com a Genoveva não. Não tô preparado.
PAI DA NOIVA: Vocês vão casar sim, já está tudo pronto, e eu não mandei você piscar pra minha filha, que é uma moça de respeito.
DELGADO: É verdade, se piscou, tem que casar.
NOIVO: Mas eu num pisquei pra filha dele, seu delegado. É que ela tava mexendo muito com os olhos e eu fui ajudar ela tirar o cisco que entrou. Não é mesmo, Genoveva?
IRMÃ DO NOIVO: O que? Você pára de besteira, Chico Lampião, olha o que você vai falar.
PAI DA NOIVA: (Junta o noivo pelo braço) Fala que não vai casar Chico, fala!
AMIGO DO NOIVO: Fala que não, prá nos ir beber umas pinga no buteco!
Januária dá um tapa em Tião, em sinal de respeito.
O delegado pega pelo o outro braço e repete:
DELEGAGO: Fala, fala que não vai casar. O meu facão tá afiadinho.
MÃE DO NOIVO: Seu Genaro, larga meu filho, que eu criei tão bem pra casar com essa feiosa que nem lava os pés pra dormir.
NOIVA: É Mentira, é mentira. A senhora, dona Marica, tá levantando falso de mim.
IRMÃO DA NOIVA: Ah, conta outra. Parece que você dorme com um gambá. Eu falo isso porque eu durmo no mesmo quarto que ela.
NOIVA: E você fica calado aí, seu espantalho.
AMIGO DO NOIVO: Até o irmão dela… Coitada!
MÃE DO NOIVO: Sua galinha d’angola da cara pintadinha. Assanhada! Regateira! Não é verdade, Penha?
IRMÃ DO NOIVO: É isso mesmo mãe, não deixe barato. Ela só que a herança dele. Interesseira.
MÃE DA NOIVA: (solta uma gargalhada) Quem vê pensa, ele não têm dinheiro nenhum e além de tudo, é muito feio. Parece um galo de briga arrepiado!
IRMÃ DO NOIVO: Mas que veia chata, e você que é feia e fofoqueira.
PADRE: Gente, para com isso.
O delegado e Genaro soltam Chico, que fica cambaleando. Tonico aparece no meio da briga e fala:
PAI DO NOIVO: Alguém tem um anador pra me dar, to com uma dor de dente…
Todos respondem que não, daí Chico dá a pinga pro pai:
NOIVO: Pai, bebe pinga que é bom demais pra sarar dor.
PAI DO NOIVO: Até dor de dente?
NOIVO: Até dor de barriga…
PADRE: Até parece… se fosse assim…
IRMÃO DA NOIVA: Mas é verdade, seu Padre, esses dias tava com lombiga, daí eu bebi muita pinga e não deu tempo de ir no banheiro… foi tudo nas calças… daí…
PADRE: Chega…
IRMÃO DA NOIVA: Mas padre, sujou o chão tudo…
PADRE: Chega… Vamos acabar logo com essa bagunça e casar os dois.
- Silencio!
NOIVA: (põe as mãos pro céu e agradece) Até que enfim,vou desencalhar. Que beleza! Brigado, S. Antonio
Todos se organizam nos seus lugares.
IRMÃO DA NOIVA: Mãe, a Maricota tá jogando charme no pai, você vai deixar?
MÃE DA NOIVA: É bom você não passar perto do meu marido de novo, senão eu vou te bater. Sua regateira!
MÃE DO NOIVO: Bem capaz que eu vou querer esse homem feio e fedorento! Chega meu fio que tá casando com essa feiosa e meu marido com dor de dente!
A noiva entristece.
MÃE DA NOIVA: Não chora não! Depois eu ensino pra você como é que se educa uma sogra!
PADRE: (Irritado) Fiquem quietas, vamos fazer logo esse casamento. Dona Genoveva, aceita Seu Chico como seu marido, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte leve algum dos dois pro cemitério?
NOIVA: (sorridente) É claro que sim, seu padre…
Assustado, Chico se afasta.
PADRE: Senhor Chico, aceita dona Genoveva como sua esposa, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte leve algum dos dois pro cemitério?
Chico não responde, olha pra Genaro que lhe encara, e depois olha pro delegado que alisa o facão. Tião acena com o dedo, indicando negação.
NOIVO: Sim, seu Padre. e com todo o gosto, porque não tem outra saída…
PADRE: Então não tem mais jeito, vocês já estão casados! E nada de beijar a noiva, pra modo não escandalizar ninguém!
Dona Juvelina faz um drama, e seu Genaro o ampara:
PAI DA NOIVA: Juvelina. Ô meu Deus, o que foi agora? Ajuda aqui Dito.
MADRINHA DA NOIVA: Ai, que calor! (abana-se com as mãos) essa roupa tá pinicando.
MÃE DO NOIVO: Não estou gostando disso!
IRMÃ DO NOIVO: Liga não, mãe, é frescura dessa veia fuxiquenta.
NOIVA: Olha lá como você fala da minha mãe, hein.
IRMÃO DA NOIVA: Minha mãe só fala a verdade, vio.
IRMÃ DO NOIVO: (Risada) Viu, eu não to mentindo.
MÃE DO NOIVO: Dona Juvelina, cuidado pra não morder na língua, senão você pode morrer envenenada.
MÃE DA NOIVA: (se recupera) Ah, fica quieta aí, sua sem vergonha. Vai catar coquinho… Eu me emocionei… (finge limpar lágrimas)
Os noivos se abraçam, e Chico pede silêncio.
NOIVO: E agora, pessoal, vamos pra festança. Quero ver todo mundo dançando.
Seu Tonico, diz que quer falar alguma coisa:
NOIVO: Gente, meu pai quer dizer uma coisa, fala pai!!
PAI DO NOIVO: Alguém tem um anador aí?
MÃE DO NOIVO: Padre, só faltava essa… Viva Santo Antônio, Viva São João e Viva São Pedro.
TODOS: Viva
A quadrilha começa logo em seguida!
(frutoproibido.org)
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